quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Salem - King Night


A equação cena musical = bandas com estilo parecido + mesma localização geográfica morreu. Se o Salem, que estréia com King Night, é a ponta mais famosa da chamada Witch House, os seus colegas de rótulo estão espalhados pelo mundo. O rótulo citado é apenas uma nomeação pouco clara, já que o que define as bandas é a manipulação eletrônica e a aproximação com o gótico e o clima de fim dos tempos . Dessa forma, muita coisa estaria sob o guarda-chuva, desde Crystal Castles até o veterano Portishead.

Afunilando um pouco mais, o que o Salem faz é uma música recheada de interferências, repetições, vocais distorcidos, seja com um rapper ou uma vocalista, aliados a uma condução gélida de teclados. Pode ser apenas uma forma de expressão pós milênio, retrato de uma geração abalada por crises econômicas e mudanças rápidas e pouco assimiladas. Isso tudo deságua em um som criado obviamente dentro de quartos plugados em softwares de manipulação, com a mente nas noites caóticas ou, simplesmente, o "lado escuro".

Interessante perceber que o Trip-Hop já foi a música da tensão pré-milenar: envolvia batidas desaceleradas, influência do hip-hop, da cena eletrônica inglesa, e soava moderno e assustador. Só que os tempos eram outros, a cena estava concentrada em Bristol. Até que ganhasse o mundo, e por consequência virasse um sub-gênero "oficial", foram anos. Quando chegou ao Brasil, foi durante muito tempo o "toque moderno" da produção de inúmeros artistas medíocres.

Voltando á 2010: o Salem é cria da comunicação atual: esse álbum de estréia já era esperado ansiosamente por blogs, público e outras bandas que se alinharam nessa visão sem filtro do mundo. Seus primeiros EPs foram disseminando pelo globo o som dark e gélido do trio. Eles citam como influência desde o dubstep até o hip-hop moderno. King Night foi avaliado como disco "difícil" por muita gente. Talvez, dentro de uma dinâmica pop ou até mesmo de bandas indie, as músicas apresentem formas diferentes. Mas isso não faz do disco algo de difícil degustação, e também não faz com que seja um marco do nascimento de um novo gênero.

O que importa: a música. Terabytes de arquivos digitais povoam a mente desse povo e o DNA do Salem: Suicide, Atari Teenage Riot, Ministry, Joy Division, Front 242, Benga, Massive Attack, minimal techno, My Bloody Valentine, Burial, Depeche Mode, Gravediggaz...O maior mérito do trio é condensar todo esse caos em uma só fonte. A canção título cria camadas operando em frequências diferentes: as batidas não são uniformes, há vocais distorcidos e fantasmagóricos e a linha condutora é uma melodia gélida. Asia alimenta ainda mais essas camadas, com uma batida mais marcante e pesada. A atmosfera é estranha, mas hipnótica. Frost é a primeira canção com um vocal discernível. Muitos apontam o Salem como uma máquina de criar sombras e imagens desagradáveis, mas esse é um dos exemplos de que, em muitos momentos aqui, há beleza escondida. Uma versão desfocada, perturbadora, mas definitivamente bonita do pop eletrônico. Sick aposta num rap em super-slow, loops insistentes por toda a canção.

Esse quarteto inicial introduz o ouvinte ao mundo do Salem: até o final de King Night, ouvimos variações dessas fórmulas - diga-se, sem repetições: apenas as fórmulas são as mesmas - com efeito intoxicante. Não é a visão do futuro da música pop: soa apenas como 2010. Precisa mais? 9/10

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