sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Blubell - Eu Sou Do Tempo Em Que A Gente Se Telefonava



Muitas vezes é preciso refazer um caminho - ou tomar outro - para encontrar algum tipo de identificação. Em 2006, Bluebell lançava Slow Motion Ballet, seu disco de estréia. Era uma coleção de boas canções, baseadas num formato pop-rock perfeitamente radiofônico. Cantando principalmente em inglês, as músicas mostravam a voz marcante e uma boa mão para composições. No entanto, parecia haver algo mais para aquela compositora: Dull Routine, com letras em português e inglês, tinha uma levada mais interessante do que a insistência na onipresença das guitarras daquele disco. Muita informação pra pouco formato.

2011. Blubell (agora sem um "e") nos introduz ao brilhantemente intitulado "Eu Sou Do Tempo Em Que A Gente Se Telefonava". Apresentado como um disco de "jazz", causou certo espanto. O rumo daquela cantora-compositora de trabalho instigante seria o do lugar comum da diluição , da música "de sala de espera"? Se a noção de jazz contemporâneo nos leva ao Smooth Jazz, ou o Acid Jazz ou qualquer variação insípida do estilo, essa definição não é a que Blubell seguiu para seu novo disco.

Existe aqui uma associação com o bom gosto dos arranjos, livres de exageros, e instrumentação típica com contra-baixo, sax tenor, piano; o romantismo europeu de Quintet Du Hot Club De France; a expressividade de Piaf, Billie Holiday. Mas Blubell compõem de forma muito leve, aliviando o peso de referências tão icônicas: a divertida Chalala - música de abertura da série televisiva Aline - não perde o timing pop e é rearranjada sem perder a espontaneidade da versão original(que aparece no disco como faixa-bônus). Aí está, então: sentindo-se confortável para expressar mais claramente seus anseios, Blubell desfila confiança por todo o álbum.

O dueto com Bruno Morais em Triz ilustra bem essa confiança: ao invés de arranhar a superfície de um gênero tão profundo a troco de floreios estilísticos, temos uma composição madura e direta. 1,2,3,5 continua a bela troca de vocais, dessa vez com Baby do Brasil: "Voce fez aquela cara de filme noir/Levantou e foi embora e ficou tudo no ar/Muitas lágrimas no meu lencinho de tafetá" . E as participações especiais continuam em Good Hearted Woman: Tulipa Ruiz faz coro nessa afirmação de "mulher de bom coração e verdadeira". My Best é uma balada dark, levada ao piano: a fluência dos versos em inglês aprofunda a melancolia da letra. É uma lembrança de que não estamos em território superficial.

São onze músicas (mais o bônus mencionado). Seria bastante razoável encontrar elementos interessantes em qualquer uma delas, seja nas letras inteligentes, na entrega vocal de Blubell, na bela banda que a acompanha...isso é mais do que um bom sinal de qualidade. É também latente a satisfação da artista em encontrar um caminho tão rico por onde se aventurar. Pra citar a última música, Velvet Wonderland: "Open the window/And let the sun shine in/Look at the mirror/And lei it begin". Blubell começa um novo capítulo com esse álbum, e ele é brilhante. 8/10 Ouça Triz, abaixo:

Blubell - Triz by eduardoyukio

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