segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Letuce - Plano De Fuga Para Cima Dos Outros e De Mim


Não vou gastar o primeiro parágrafo elencando motivos (eu os tive) para não ter falado ainda dessa banda do Rio, cujo núcleo criativo é formado por Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos. Talvez seja até bom, como perspectiva, deixar aquela ansiedade de resenhar algo que voce acabou de ouvir e se entusiasmou. Escrever sobre o que te deixa feliz pode tornar o texto mais interessante se esse sentimento permaneceu e resistiu a alguns meses.

Então, vamos lá: esse é o primeiro disco deles, e saiu no ano passado. Fiquei intrigado em relação a leveza das canções, que à primeira audição soavam bastante simples. Mas ao mesmo tempo, a voz de Letícia ganhava espaço pela força. E as letras caminhavam entre o jogo de palavras bem emendados com humor e reflexões muito mais emocionais. De certa forma, esses elementos me pareciam bagunçados, atrapalhando a coesão do disco. Mas aí, certo dia, bateu forte. Tudo fez sentido.

O Letuce não é uma banda de poucas dimensões. Algo transforma pequenas fagulhas em fogo, e essa fricção - que eu chamei de inconsistência aí em cima - é o elemento fundamental para torná-los tão interessantes. Não sei se é o interplay entre a construção melódica e instrumental da metade masculina e a entrega de Letícia. O fato é que Plano De Fuga... é como um daqueles discos que crescem ao longo das audições, porque parece esconder pequenos versos, acordes, emoções.

Letícia canta de forma divertida, debochada, reflexiva. Como se soubesse rir de qualquer situação - até as dolorosas - e dessa maneira particular é capaz de encantar o ouvinte. Darwin's Fairy Tale é um bom exemplo: divertida, sem frivilidades. O escopo estilístico do álbum é vasto, porque, ouvidas individualmente, são rock, folk, brasileirismos setentistas, samba: entretanto, há uma simbólica fragilidade, um delicado tear de arranjos. Binóculos é romântica e rasgada, seguida pela bonita Tuna Fish, de letra mais desencanada. Seresta Quentinha não poderia ter nome mais apropriado, aconchegante e doce.

Quantas bandas conseguem te fazer sorrir e ao mesmo tempo enxergar uma beleza quase triste, e te obrigam a escavar para descobrir tais qualidades? E quantas reúnem um "coração de esponja"? O Letuce é assim. Não é um pequeno disco perdido. É uma obra que merece audição, de coração e mentes abertos. A recompensa é grande. 7,5/10

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