terça-feira, 29 de março de 2011

Glasvegas - EUPHORIC /// HEARTBREAK \\\


O Glasvegas possui tantas referências de credibilidade indie que muita gente desconfia da banda: eles são da classe trabalhadora (importante isso no Reino Unido), foram "descobertos" pelo mesmo Alan McGee (dono da Creation), que achou o Oasis. No mesmo lugar: King Tuts Wah Wah Hut, pub de Glasgow. E o vocalista é um sósia do Joe Strummer. Apesar de tudo, a estreia esteve á altura: Glasvegas, de 2008, é um disco recheado de guitarras e uma entrega vocal impressionante de James Allan, combinado com o amor pelo Jesus And Mary Chain em termos de tristeza barulhenta e loser, mais uma pitada de rock neanderthal.

A banda parecia decolar para a fama, mas entre 2008 e 2010 muita coisa deu errado: James Allan sofreu pelo menos uma overdose que impediu a apresentação deles no Coachella 2009, esteve desaparecido por cinco dias (na mesma semana da cerimônia do Mercury Prize), e a baterista Caroline saiu do grupo. Para o timing pop atual, o Glasvegas já estava morto. Mas esse segundo disco pode recuperar a carreira dos escoceses (e uma sueca, a baterista que substituiu Caroline).

Produzido por Flood, produtor do U2, e gravado na California, EUPHORIC /// HEARTBREAK \\\, parece ser a sequência ilógica do album anterior: ilógica porque entre a absurda badalação - inclusive nos EUA - da imprensa, fatos como uma quase-morte e a saída de um membro são potencialmente capazes de abalar a capacidade criativa, e portanto, a continuação mais coerente do trabalho anterior. Eles não tiveram escolha, a não ser arriscar. E riscos foram assumidos: basta dizer que a MÃE de James Allan está presente no disco, na abertura e na música final.

Se esse deveria ser o What's The Story (Morning Glory) do Glasvegas, um disco que expande as qualidades que foram expostas anteriormente ao mesmo tempo em que escancara o potencial comercial da banda, talvez falhe. O mercado e a crítica não parecem mais tão simpáticos a bandas como o Glasvegas. A polícia hipster agora aponta esse tipo de rock depressivo como algo desprezível. E é na insistência em calcar a imagem da miséria humana em seu som que o grupo triunfa. Sem espaço para letras calmas, Allan derrama suas frustrações de forma crua e se expõe ao ridículo algumas vezes - não muito diferente de Rivers Cuomo, do Weezer, em Pinkerton- mas não demonstra receio.

Houve algum avanço na estrutura melódica de algumas músicas: embora ainda explodam em refrões que soam como hinos de torcida de futebol - a presença de uma baterista mais hábil traz uma variedade rítmica diferente da habitual, e teclados e arranjos aproximam as canções de uma missa católica e seus cânticos. Ao contrário de bandas que exploram esse lado "rock de arena" como o Muse, Killers ou Kings Of Leon (sem citar as "veteranas" Coldplay e U2), o Glasvegas é peculiar demais para ser ordinário: Allan não canta sobre temas abrangentes e populistas; seu sotaque escocês é forte; o cara jogou futebol profissionalmente (!); ele canta sobre sobreviver até o dia seguinte. Se uma balada como Whatever Hurts You Through The Night é pop o suficiente para se tornar tema de um episódio de Glee, é também uma das mais pungentes peças sobre a depressão já colocadas em disco.

O Glasvegas pode até alcançar as paradas comerciais com esse disco, mas pertence a uma categoria de bandas que sempre estão mais próximas da escória e da miséria, como o Echo And The Bunnymen e o JAMC nos anos oitenta e o Manic Street Preachers e o finado Mansun na década seguinte. Tristeza pequena vira rock bastardo adolescente americano. É preciso uma dose de vida real para escrever grandes canções. E James Allan é um bastardo talentoso. 8,5/10

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