quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Girls - Father, Son, Holy Ghost


Seu mundo pode ser aquele que apresenta crises econômicas, rachaduras sociais e cidades em chamas. A abstração disso na música pop atual pode virar um contraponto hedonista de bandas festeiras ou uma rara reflexão mais madura (e perigosamente próxima da arrogância). Mas também pode refletir um estado maior de sentimento de inadequação ou tristeza. No caso de Father..., segundo álbum dos californianos do Girls, o universo retratado é exatamente o da perdição romântica e a desesperança. Pode parecer pessoal demais, mas acaba tendo apelo maior, em um cenário universal em que sentimentos tão comuns são relevados. Em suma, o som de caras chapados cantando sobre garotas que se vão faz mais sentido do que afirmações unidimensionais sobre conflitos, bolsa de valores e violência. No meu mundo, pelo menos.

O que chama a atenção é que o disco soa mais pesado, com maior cenário, sem perder algumas características que fizeram a fama do primeiro álbum: letras confessionais e auto-piedosas, no limite entre a embriaguez e a beleza, passagens melódicas matadoras e a fragilidade vocal de Chris Owens. Honey Bunny engana de início com certa similaridade com as músicas de Album, mas a quebra melódica no meio cria uma espécie de marca, que acaba por definir muito do que virá pela frente: estruturas mais firmes, nuances antes inexistentes e mais peso instrumental. Die é praticamente um hard rock setentista, Chris encaixando um "We're all gonna die, we're all gonna die!": excelente. My Ma é uma balada country-rock-gospel recheada de guitarras encharcadas de efeitos; Vomit, o primeiro single, pode ser a Hellhole Ratrace do atual momento: servindo de peça central do trabalho, a canção cresce lentamente construindo um clímax que é puramente psicodelia: teclados e guitarras tecendo barulho. A parte final da música novamente chama um coro para emoldurar o apelo de "Come into my heart" de Owens; ecos de Pink Floyd e Spiritualized. Just A Song possui uma certa melancolia narcótica não muito distante de algo de Neil Young circa At The Beach mas termina com uma repetição insistente e arranjos delicados. A leve Magic traz um certo alívio com a típica simplicidade melódica e lírica da banda. Love Like A River é bela embora montada sobre trejeitos soul manjados.

Father, Son, Holy Ghost é uma extensão bem executada das bases apresentadas em Album, já apontando direções em que o Girls poderá seguir daqui pra frente. Uma trilha sonora devastadora para dias tensos. 8,5 / 10

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