quarta-feira, 19 de outubro de 2011

The Hour, a boa surpresa da TV em 2011


O ator inglês Dominic West, o policial McNulty da antológica série The Wire (exibida pela HBO nos EUA entre 2002 e 2008) certa vez fez um comentário a respeito da grande presença de atores britânicos na tv americana: West via uma grande oportunidade de fugir dos dramas de época da BBC, segundo ele muito bem feitos mas que limitavam sua performance e o alcance junto ao público exatamente por seguirem fórmulas definidas e não contemporâneas; exemplificou demonstrando que sempre era escalado para papéis de aristocrata, enquanto McNulty e The Wire representavam uma realidade atual e um personagem da classe trabalhadora. Dominic está de volta á tv britânica com a série The Hour, algo que se situa em um meio termo entre as escolhas observadas anteriormente: o programa não se situa temporalmente no período pré-guerras, mas também não se passa nos tempos atuais, mas sim em 1956. Hector Madden, seu personagem, possui um perfil  mais ligado ao oportunismo burguês do que a um lorde imperial. 

The Hour segue o interlaçamento de relações entre Hector Madden, Freddie Lyon (Ben Whishaw) e Bel Rowley (Romola Garai): Bel é a produtora jovem e dinâmica do programa jornalístico The Hour, recém aprovado na grade da então ultra conservadora BBC; auxiliada pelo seu amigo íntimo Freddie, um repórter audacioso e temperamental, tentam dar vida a uma certa independência jornalística: Madden, é o âncora escolhido pela direção devido aos seus bons contatos na alta sociedade e que disputará o espaço com Freddie - profissionalmente, e também pelo afeto de Bel. Em meio aos eventos políticos do pós guerra - a crise do canal de Suez, um grande golpe no decadente império britânico - uma trama envolvendo misteriosos assassinatos.

Os ingredientes estão lá: mudanças sociais e políticas (Bel é uma mulher que chefia um grande programa e se envolve com o casado Hector Madden, Freddie ascende profissionalmente apesar de sua origem pobre, imigrantes dos países descolonizados aportam em massa pela Grã- Bretanha encontrando o racismo de um país alienado por devaneios e frivolidades, etc). A série opta por dividir o espaço do drama com o suspense, quando aponta para o envolvimento de agentes secretos e poderes obscuros na morte de uma amiga de infância de Freddie. O perigo de perder o foco vai sendo dissipado ao longo dos episódios - são seis no total - e a direção e roteiro de Abi Morgan equilibram os pratos em parte pela interpretação mais do que adequada do trio principal e de coadjuvantes precisos. A dimensão dos personagens também vai se ampliando ao longo do programa, e nuances começam a fazer sentido de forma harmônica: a tensão sexual entre a esguia Bel e o galã Hector em contraste com o amor platônico do esquelético Freddie por Bel evita clichês dos triângulos amorosos.

A música ouvida na Londres de 1956 era predominantemente ligada á crescente influência da cultura norte-americana, passando pelo jazz e pela pré história do rock, com Bill Haley, mas também começava a incorporar os sons trazidos pelos imigrantes das ex-colônias africanas e caribenhas (esses últimos ainda sem grande penetração entre brancos da classe média).

Dominic West voltou a estrelar um programa da BBC, mas não conseguiu ainda seu sonhado papel de trabalhador comum em uma série com fundo contemporâneo em seu país; pelo menos The Hour é um bom show, muito mais do que um Mad Men genérico.

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