sábado, 19 de novembro de 2011

Slow Club - Paradise


Não deixa de ser surpreendente que uma das melhores bandas inglesas da atualidade seja um duo garoto/garota  praticando um indie-pop aparentemente sem grandes ambições: todo o aparato em torno do grupo formado por Charles Watson e Rebecca Taylor sugere apenas mais uma bandinha twee, fofinha: Charles faz o tipo introspectivo e Rebecca é uma bonequinha loira tímida; dá pra imaginar um comercial da Starbucks estrelado pelos dois. Mas Paradise, segundo álbum desse pessoal de Sheffield prova que eles podem surpreender os mais ácidos críticos. A (perdão) indigência da cena independente da ilha ajuda a explicar, mas não elucida totalmente o motivo de o Slow Club ser um destaque positivo em 2011. 

Com uma base instrumental simples de guitarras, violões, teclados e bateria/percussão, a dupla coloca em prática o bom exercício de se criar melodias mais recheadas de curvas, abandonando a linearidade do propósito meramente banal de soar digerível; a impressão é que realmente há uma força de composição que norteia o andamento do álbum, ao invés de pequenos ganchos que se repetem.

Em Two Cousins já temos um exemplo das qualidades do grupo: Rebecca possui bela voz, entoada com intensidade volátil; as harmonias serpenteiam com facilidade; o ataque instrumental preenche espaços e conduz ao elemento mais abrasivo porque há ritmo: sem tirar as mãos do pop, o Slow Club apresenta uma canção capaz de cativar também pela criatividade. If We're Still Alive não estaria fora de lugar em um disco do Givers, toda trabalhada na percussão insistente e riffs sujos: sem mimimi, só curtição. A balada Never Look Back funciona de um jeito que só boas canções podem funcionar: é um dueto com linhas de baixo roubadas de qualquer soul antigo, estaladas de dedo e refrão manjado: a sensação é de que você já ouviu isso antes, mas mesmo assim é bonita e vibrante. Where I'm Waking mistura a energia da abordagem mais agitada com a reflexão melódica característica da banda, Rebecca entregando um "I can see you're looking at me/ You've got the brains/ I've got the body...Lay me down/please lay me down."

A fórmula encontrada aqui parece simples: sem fugir ou temer suas influências, o Slow Club se concentrou em escrever boas canções: não há reinvenção e experimentação, mas também não há brecha para momentos anêmicos: cada faixa de Paradise traz consigo uma boa dose de emoção. O folk quieto de Hackney Marsh e a exuberância de Beginners possuem a mesma vocação para saltar aos olhos - ou ouvidos - mais espertos graças ao entrosamento entre Watson e Taylor na construção das ambiências sonoras. You, Earth Or Ash é uma madrugada pós-tudo sintonizando uma rádio AM encapsulada em forma de canção: o verso "I'm exhausted" é cantado com tamanha emoção por Rebecca que é um daqueles pequenos momentos que engrandecem um álbum. O folk eletrificado em The Dog, adornado pela bateria dura, monotemática de Rebecca e um refrão de dar soquinhos no ar podem fazer alguém engasgar com o frapuccino.

Trabalhar em um campo já repleto de bandas (o universo "indie" do folk-pop inglês: Mumford And Sons, Noah And The Whale, Stornoway, Johnny Flynn, Laura Marling, Emmy The Great, etc) pode ser uma proposta de tiro curto: se a execução for medíocre, a duração será a mesma do interesse e badalação em torno de qualquer coisa nos dias de interwebs: ontem já faz tempo e não interessa. A duplinha de Sheffield - terra de boas bandas, diga-se - evita os clichês ao se apoiar em uma confiança monstro e uma verdadeira paixão pelo pop perfeito. O que eles fizeram em Paradise já merece muito mais do que habitar o sistema de som de paraísos hipster. Use seus fones de ouvido e aproveite. 8/10

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